Amassou a bituca do cigarro no meio-fio, mas não jogou na sarjeta. “Todas essas bitucas poderiam ser úteis para alguma coisa” pensou, cortando todos os outros tantos pensamento, e guardou a sua no bolso do casaco. Sempre fazia isso, não sabia se pela idéia de transformar em algo útil ou por pura consciência ambiental, talvez pelos dois, que no fundo eram a mesma coisa, mas a inércia da vida a fazia na esquina seguinte lançar mão da bituca na valeta mais próxima.
Almoçou como sempre, voltou para a tela do computador como sempre, passou mais algumas horas como sempre. Quando acabou seu expediente, sentiu sono como sempre e perdeu todas as vontades de mudar a rotina que lhe era inteiramente sua depois das 18horas. Tentou reagir por três vezes, por fim entregou-se ao cochilo em pé, ao invés do livro que carregava na bolsa. “Hoje eu chego e durmo, amanhã posso estar mais disposta e recuperar o tempo perdido”, o fim do pensamento “tempo perdido” lhe remeteu a uma música, e essa música lhe remeteu a um professor, e esse professor lhe remeteu algumas idéias, por fim estava novamente como sempre com milhões de janelas abertas. Não dormiu. Nem leu o livro. “E depois do banho, talvez...”