Nem precisava falar mais nada. Tinha matado a mãe e pronto. Eu, que não queria saber de mais encrenca pro meu lado, dei as costas praquela maluca e fui saindo de fininho.
- Aonde você vai?
- To vazando, falei, abrindo a porta do quarto.
- Não pode ir embora! Não tem como voltar para casa!
- Volto nem que seja a pé, parei pra dizer. - Se você matou a velha ou não, isto é problema seu. Eu é que não fico aqui nem a pau! disse, já no corredor.
– Espere.
Fingi que não ouvi e continuei andando. Quando tava no meio da sala, Leonor pulou nas minhas costas, me deu uma gravata e, com o outro braço, começou a me bater na cabeça e na nuca.
- Você não pode me deixar sozinha, canalha! Não pode, não pode! berrava na minha orelha.
Como Leonor era magricela, aguentei o tranco e continuei em pé até conseguir tirar ela de cima de mim. Tentei segurar seus braços, mas ela era ligeira e escapava sempre. Como não parava de me bater, tive que acabar logo com aquilo.
- Para, assassina! gritei e empurrei ela com força.
Leonor bambeou, dando uns três passos para trás, e caiu de costas, quase batendo a cabeça na parede. Um quadro caiu em cima dela e tombou no seu peito.
- Leonor, chamei. – Leonor.
Minhas pernas tremiam e eu só pensava no tamanho da merda que tinha feito. Não sabia se pedia ajuda - os vizinhos já deviam ter acordado por causa do barraco que Leonor tinha dado - ou vazava antes que alguém aparecesse. Com um puta cagaço, desci pela escada pensando na desculpa que daria na portaria pra sair. O porteiro demorou pra abrir o portão, mas não perguntou nada.
Na rua, depois de correr por umas dez quadras, pensei em voltar quando lembrei de Leonor estirada no chão. Cheguei até a acreditar que ela não tinha mesmo matado a mãe. Mas aquilo não era problema meu. Culpada ou não, Leonor já devia estar fazendo companhia à velha e minha maior preocupação, além de sumir do mapa por uns tempos, era como contar toda aquela fita à polícia, caso me encontrassem algum dia.