Os dias passavam lentos e rarefeitos, o tempo agora estava muito seco, mas ela ainda não sentia a secura. Experimentar o controle do sentir o que a sua volta acontece não era algo que ela conseguia, incontrolável era os excessos de vida que ela guardava nas gavetas, nos armários, nos cadernos – não podia sentir o tempo seco do momento porque há muito estava encharcada. 
Deitada no chão tentava abolir qualquer pensamento, esvaziar-se em teoria. As teorias sempre tão numéricas confundindo-a vertiginosamente. Já completava duas semanas do dia em que se deitou para dormir sem programar o despertador e não saiu mais de casa. O telefone tocou algumas poucas vezes nesse período, mais precisamente nos primeiros dias. No celular recebia algumas mensagens ainda. Sua caixa de e-mail, ela sabia, estava lotada, embora evitasse conferir para não correr o risco de responder um se quer. A campainha não tocará nenhuma vez.
Deitado no chão do quarto ela jogava. Jogava contra ninguém, de si para consigo e assim, única jogadora de um jogo, era quase impossível estabelecer qualquer competição... por tanto os dias iam passando lentos e rarefeitos e ela pensou que talvez fosse bom abrir pelo menos a janela.