No corredor, Leonor segurou firme a minha mão; a dela tava tão fria que, se não tremesse tanto, diria que era a de um defunto. Ela ia na frente enquanto eu tentava imaginar seu corpo debaixo daquela camisola de vovó que usava.
Chegando no quarto, ela fechou a porta devagar como se tivesse mais alguém na casa que pudesse nos pegar em flagrante. O quarto era igual ao que eu tava, mas tinha uma penteadeira velha, lotada de perfumes e uma caixa com mais remédios. Eu não podia perder tempo e cheguei junto.
- Se você não fizesse isso, eu mesmo teria feito, falei, pegando na cintura dela.
- Sai! O que você está fazendo? perguntou, me empurrando.
- Ué, o quê você queria que eu fizesse, gata.
- Espera! Não é o que está pensando, disse, se encostando no armário.
- Como assim? falei, cruzando os braços, meio puto. - Você vai até o meu quarto, me chama pra ficar aqui e diz que não é o que tô pensando. Para com isso, Leonor!
- Não chega perto de mim se não quebro a sua cabeça, ameaçou, pegando o abajur de cima do criado-mudo.
- Tá bom, tá bom. Mas por quê me chamou aqui, então, pô?
Ela fez uma careta e começou a chorar.