Passou o resto da manhã tentando associar a frase com algum livro, ou ainda mais ousadamente com algum escritor. Ela tinha um vasto conhecimento de literatura, mas era petulância demais achar que com uma dúzia de palavras de uma frase lida a esmo pudesse chegar a algum lugar – era também racional demais tal tentativa, muito mais humano seria simplesmente encarar a frase solitária e sua significância nesse contexto, mas pensar, para ela, era uma linha tênue entre razão e emoção. Talvez se rendesse a uma pesquisa na internet mais tarde, mas agora diante da telinha quadrada e brilhante ela resmungava, “mas que droga, o Banco novamente não resolveu os descontos”. Ergueu mecanicamente o braço esquerdo em direção ao telefone, discou mecanicamente o número do Banco, e mecanicamente foi aguardando as infindáveis transferências, sempre repetindo mecanicamente palavras como “cobrança” “indevida” “novamente” “valores” “desconhecimento” “falta” “atenção” “urgência” “resolver”... num ritmo compassado ela foi ouvindo o pingar, pingar, pingar “aguarde” “momento” “transferi-la” “não” “aguarde” “conferência” “momento” “transferi-la”... Com a voz alterada cortou a sequência com uma espécie de ameaça fajuta “fechamento da conta”.