Acorda pesado, com a fome berrando e o braço doendo, por cima de onde dormira a sono solto. Escolhe a posição melhor para a oração, a barriga para cima e corpo reto e demora para se esticar, meio dormindo, meio acordando.
Já notara o quarto quente onde se encontrava de novo sozinho, ao lado da camisola da esposa jogada sobre a cama. Se sente amargura ou na boca ou na vida não sabe precisar e decide levantar-se sem dó nem reza. Joga os lençóis contrafeito, senta-se na beira da cama e finca os cotovelos sobre as coxas para esfregar os olhos. Quase se deita de novo em pensar no que tem para fazer; o cenário à sua volta é desolador e a casa está deserta com o tanto de sol esquentando a persiana. Para os filhos o sábado é de piscina com os amigos; a esposa naquelas horas se enfiara em mais uma das numerosas reuniões e mal tinha disposição para deixar um bilhetinho como ele gostaria.
Levanta-se e abre as cortinas, protegendo os olhos de tanta claridade. Lá embaixo a piscina figura no amplo quintal, onde serve para enfeitar a paisagem e sustentar o jardineiro que a mantém limpa. Dá as costas para a janela como se evitasse, logo cedo, a contínua sucessão de problemas.
Mas já vestira a roupa da rabugice, andando quase duro pelo quarto, a cara amarrada, quase cansado só de acordar. Pisa a lembrança da agência com o pé esquerdo, com o direito a esposa que saíra, com o esquerdo a bagunça no closet, com o direito a distância dos filhos e vai passo ante passo desfilando contrariedade como se fosse para o inferno.