Esperou seu chefe cruzar pela sua mesa em direção a sala dele, largou o telefone no gancho, levantou-se esquivamente e foi ao banheiro. Tentou chorar, não conseguiu. Ficou com a sensação estranha no peito, sem saber resumir em explicações. Havia alterado sua voz ainda a pouco no telefone, talvez não conseguisse suportar perceber-se impostando alguma coisa. O Banco prometia uma resolução antes do horário de almoço dela, naquele mesmo dia, ela esperaria paciente como sempre. E ela precisava ir comprar o almoço e nem sabia decidir o que tinha vontade de almoçar, ela precisava se posicionar na vida e nem sabia o que tinha vontade de viver. “Se eu não voltasse para casa à noite, quem se importaria?” E ela ia pensando em ramificações infindas, nenhuma com sentido prático ligado ao problema do Banco, mas tudo parecia sim uma coisa só. Ela queria alguma coisa imprecisa, mas no momento a única certeza era que precisava sair do banheiro e voltar para a mesa com a cara mais saudável possível.