Foi até o banco e depois das repetidas intermináveis transferências conseguiu ficar cara a cara com o gerente. Júlio foi polido e mecânico como um funcionário padrão em atendimento e deixou-a esperando pela sua vez. Ela foi petulante como até então não se percebera, mas esperou. Esperou talvez porque o gerente havia sido bem profissional, coisa que poucas vezes acontecia quando era atendida por homens, ou esperou por simples estagnação, ou ainda esperou porque realmente precisava ser atendida. “Eu não sei por que estou esperando”. Em princípio entorpecida pelo excesso de distanciamento humano do ambiente, jogada na cadeira, com olhar vago, divagou na espera, até que se deu conta de seu total abandono e achando-se “pouco gente” endireitou-se, como se envergasse a vida junto com a coluna na cadeira, puxou um livro da bolsa e pôs-se a ler. Inquietou-se, não com a espera, mas com a própria vida. Achou que talvez não demorasse muito para ser atendida, visto que o gerente parecia realmente preocupado em atender os clientes, inquietou-se ainda mais, talvez ela não quisesse vencer novamente pela paciência, talvez pelos pensamentos a frase mais concreta fosse “não quero continuar esperando e ser atendida como sempre”.
– Senhor – disse, aguardando o desvio de atenção que ele dispensava ao atendimento de outra cliente – creio que o péssimo atendimento dessa agência me obriga a recorrer a outros meios para solucionar meu problema. Passe bem.
Virou-se e saiu a passos largos da vista do gerente, torcendo para que ele na sua polidez não resolvesse convencê-la a aguardar mais um momento.