Depois que Leonor me falou aquilo, parece que toda a fita tava rolando na minha frente naquela hora. Ela segurava a mãe pelo pescoço dentro da banheira e a velha se debatia como um peixe fisgado.
- Ela morreu naquela banheira, falei, apontando pro lado do banheiro.
- Como você sabe? perguntou, parando de chorar.
- Foi você que apagou a velha.
- Não!
- Apagou, sim, eu sei.
- Não matei! Ela me deu uma bofetada no rosto só porque peguei os sais de banho errado.
- E você matou ela só por causa disso.
- Eu não matei, eu não matei aquela bruxa! Eu fui embora e ela ficou sozinha. Depois, ela teve um troço e morreu porque não tinha ninguém pra ajudá-la.
Leonor segurou a cabeça e se jogou na cama, meio encolhida como uma criança, com o olho fechado.
– Eu falei: “Foi a última vez que a senhora me bateu” e saí. Quando voltei, ela estava morta. Não foi minha culpa. Por que acha que mataria minha mãe? Você não sabe de nada. Não sabe o que é ter uma mãe que lhe despreza, que lhe tratou a vida inteira como uma criança retardada e não poder fazer nada. Nem ter uma vida normal. Ela sempre me odiou.

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