Sob a coroa de louros se estende o homem prodígio. Crescera na pobreza de espírito; o pai, de bolsos cheios e coração vazio, não tinha disposição para ouvir-lhe a imaginação precoce. Dava-lhe um maço de notas ao colo, que mais eram o preço do sossego. Para o menino, o pai era o dono do mundo e, como filho, mais valia que herdasse tudo aquilo, o nariz empinado e os gestos categóricos. Valia que os imitasse, o dedo em riste no espelho, o cenho franzido e o olhar penetrante. Com a voz modulando mandatos, cresceu maior que os empregados e tutores, as mãos pousadas nos bolsos e os pés folgados nos chinelos, enquanto a boca lhes chibatava a condição de humildade, à imagem e semelhança do imperador Júlio César, o pai.
Natural que escolhesse o dinheiro como profissão, estudando do bom e do melhor, sob as rédeas longas da família. A mãe não trabalhava, mas em casa não ficava, a troco de perda de tempo. Dispunha de um ou dois criados e saía pela cidade, sem hora para voltar.
E Júlio ergueu-se assim, meio filho, meio sozinho, razão pela qual chegar à própria casa, vazia da esposa e dos filhos era mais que um martírio. Queria virar-se do avesso, explodir-se em três júlios para os trazerem de volta imediatamente. Disso não tinha controle, e modelo não era, para exigir que estivessem com ele à sua sombra, aos seus horários e à sua vontade. Mas bem que gostaria.

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