- Dá licença?
Mesmo me vendo chegar, ela tomou um puta susto. Não tava esperando que eu puxasse conversa. Deu um pulo na cadeira segurando o peito.
- Opa, foi mal aí, não queria assustar você.
- Não, não foi nada. Eu é que tava distraída.
- Sei. Tá esperando alguém? perguntei, puxando a cadeira.
Não tava e me deixou ficar, apesar de me olhar meio desconfiada. Chamava Leonor e, aos poucos, foi se soltando quando viu que eu era firmeza. Nem precisou falar muito pra eu ganhar a fita: era uma mulher insegura e carente. Falava sobre um monte de coisa ao mesmo tempo, sempre simpática, só queria companhia e, quem sabe, um cara que nem eu, que pudesse resolver o seu problema.
Disse que era dona de uma loja de antiguidades. “Legal, ouvi falar que isso dá um bom dinheiro”, pensei. Morava sozinha, a mãe tinha morrido uns dois meses antes. Era filha única, tinha feito Direito, mas nunca foi advogada porque não tirou uma carteira ou, sei lá, um troço que não entendi muito bem. Desde menina tinha ajudado o pai na loja e assumiu o negócio depois que ele empacotou, pelo que falou, há uns quinze anos.
“Rica, coroa e sozinha”, pensava, sempre rindo, bebendo e fumando enquanto dava mais corda em Leonor . “Sorte a sua, dona, ter me conhecido antes de outro espertão”.
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