Milhões de pessoas gritavam. Todos nus corriam em praça pública com flores no cabelo. Ela estava ali no meio, começou a gritar que Jesus não era nada, que Buda era um idiota, e tentou salvar o boneco de Judas que era malhado no meio da rua por onde todos passavam. Sentiu imensa pena dele, ajoelhou-se e bradou todos os xingamentos que lembrava para uma mulher loira que vinha na sua direção oposta. As pessoas se reorganizaram e formaram um ringue, no meio a mulher loira e ela. Não se tocaram, apenas elevavam a voz atirando-se ao chão e perdendo as flores do cabelo, o corpo exposto, nu, começava a cobrir-se de sujeira, sangue e hematomas, só o dela, pois a mulher loira permanecia com flores na cabeça e absurdamente limpa. Cansada, ela recuou na continua pregação incompreendida de Buda, Jesus e Judas. Aos poucos a mulher loira se vestiu e recuou levando meia dúzia de pessoas consigo. Ela, imunda e machucada, permaneceu parada onde estava vendo difusamente a multidão que ficava ao seu lado, como se houvesse ficado ainda assim só. Longe ouviu um trovão, um trovão estranho, também difuso. Uma luz mansa, se aproximando na difusão da imagem. Abriu lentamente o olho e desligou o celular que despertava.
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