A moça subiu as escadas, levava um cigarro na mão esquerda, tinha o olhar vago e parecia ter muitas coisas para pensar, impressão que se agravou quando ela sentou no meio fio.
Era uma tarde fria, mas de sol imponente e as pessoas que passavam naquela rua tinham quase todas o mesmo destino: o Restaurante Supius, era o único da região que servia uma comida mais ou menos digna. “Talvez abrir um restaurante aqui daria uma boa renda” foi um pensamento que cortou os outros tantos que ela tentava manter, todos como janelas de Windows abertas paralelamente sem finalidade alguma, mas desfalcando consideravelmente o desempenho do sistema. Assim era sua mente, sempre, um torvelinho de coisas desconexas. Aos olhos alheios parecia sempre estar pensando muitas coisas importantes, para si mesma parecia também sempre estar pensando muitas coisas importantes, mas no fim, colocando em conclusões, tinha a certeza de que não pensava em nada. Tal como seu computador, que trabalhava o dia inteiro com as dezenas de janelas abertas e no final do dia desligava-se sem ter feito absolutamente nada de grandioso, enquanto todos a sua volta acreditavam piamente na produtividade da imagem.
Sentada na beira da calçada terminava seu cigarro. Enquanto a maioria deixava para fumar depois do almoço, ela sempre fumava antes.
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