Ainda na noite anterior recebeu uma ligação de Leonor desmarcando, aos sussurros, o bate papo que teriam, disse que depois explicava, que tinha conhecido alguém. Só isso.
Com isso teria então mais tempo para cuidar de suas coisas.
Com isso teria então mais tempo para cuidar de suas coisas.
Noemia voltou do cabelereiro com cabelos curtos num tom castanho suave bem penteados, com batom rosado delineando seus lábios finos, o que lhe conferia aparência sóbria e certa confiabilidade.
A tarde enquanto cantarolava com voz de Noemix ouviu a campainha e ficou surpresa ao ver Magali toda produzida jorrando um sorriso enorme de cor vermelha para cima da anfitriã “oi Noeeemiááá!”. Com outro sorriso cor de rosa Noemia a recebeu e a convidou para um café “De passagem por aqui? Entra e toma um café fresquinho comigo”. Magali desfilou até a porta de entrada sobre o salto doze mal cabendo dentro do vestido branco quase transparente deixando um rastro de Chanel 5 em plena três horas da tarde. Noemia ia logo atrás e teve tempo de olhar atentamente a amiga que parecia ter remoçado uns dez anos, tinha as curvas mais acentuadas e tudo nela exuberava num rebolado quase vulgar. Na cozinha azulejada ambas sentaram e Magali disse que não estava de passagem, tinha ido especificamente falar com Noemia “fiz lipo você viu?”. Noemia tinha visto e pensou no esforço que o pobre do Geraldo faz para ganhar seu dinheiro no Ceasa “ficou bom hein, parece ter remoçado uns dez anos”. A vizinha demonstrou alegria ao ouvir isso de Noemia, pois soava verdadeiro. O café esfumaçava na pequena xícara branca de porcelana Schmidt enquanto os dedos pintados de Magali rodavam a colherinha de inox que temperou com adoçante a bebida “Noemia acho que o Gê não me quer mais, foi por isso que fiz a lipo pra ver se ele se interessava de novo por mim, mas não adiantou. Ele anda muito distante e não me ouve mais, não se incomoda com nada que eu faça. Teve uns dias que andei até dando asa praquele tal de Marcos, mas ele é um garotão sem compromisso e logo imaginei o que seria se o Gê descobrisse. Será que descobriu? Ái meu Deus, se ele me deixar estou perdida menina, não sei fazer nada, nunca trabalhei na vida, o que eu faria sem ele?”. Noemia assistia aquilo com pesar. Conhecia há muito o Geraldo, certamente não descobriu nada, mas não via mais graça na beleza supérflua de Magali, era isso. Geraldo e Noemia eram amigos desde a infância, cresceram juntos no bairro, estudaram na mesma escola, ele vinha de uma família rígida cheia de tradição no ramo de frutas e verduras. Quando casaram Noemia e Osvaldo foram seus padrinhos. Noemia se lembra do dia do casamento, Magali parecia tão menina ainda. Em que momento da vida ela se tornou tão fútil? Ao levantar para ir embora Magali retocou a maquiagem e esguichou outra vez aquele sorriso carmim, foi desfilando em direção ao portão de madeira seu corpo lipoaspirado e vazio.
Noemia sempre soube no que iria dar o assanhamento da vizinha.
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