Meses depois ela esperava pelo cliente da imobiliária em uma casa vazia que estava à venda, enquanto devorava um Arthur Conan Doyle e fazia anotações na caderneta. Fazia as correspondências do caso tal qual Sherlock tentando chegar ao assassino antes do detetive. Já passava das dezenove horas quando a campainha soou e ela foi abrir a porta. Lá estava Leo com seu alinhado e impecável terno, com o costumeiro perfume que ela bem conhecia. Noemia estremeceu de novo. Ele sorriu surpreso, mas tratou de se voltar para a realidade chamando Rosana que ainda estava no carro:


— Venha querida, venha ver a casa que será nossa. Espero que goste! – e estendeu a mão para uma mulher bonita de trajes finos e delicados que seria sua esposa, posição que Noêmia rejeitou um dia.

Leo percebeu que Noêmia já tinha superado a separação e que mantinha o hábito pela mesma leitura, e comentou:

Vale do medo é um ótimo romance! Doyle usou a mesma técnica em Um estudo em vermelho. Se não leu, leia, pois estou certo de que vai apreciar o desfecho - disse ao se despedir acrescentando – “foi um prazer revê-la saudável e com brilho nos olhos”.

Ele sempre observador, não parecia ter mudado. Mas ela sabia que agora seria Rosana que iria dividir com ele a esteira listrada na praia de Ubatuba.

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