Outro dia. Mesmo ponto de ônibus à espera da condução rotineira e de novo da visão daquele tamanco de sola de cortiça. Após portas e mais portas batidas no nariz durante o dia, e o sol queimando-lhe os poros, Antero enfim chaga na hora mais esperada do dia. A esperança de vê-la e quem sabe, puxar uma conversa boba, fez o dia demorar mais a passar. No ponto a mesma senhora com a bolsa de tecido amarrotada, o mesmo tiozinho vendendo seus doces num tabuleiro improvisado e a turma de adolescentes que acabara de sair da aula. Quando Sandrinha aparece, Antero antecipa o pensamento e segue em direção à padaria, antes mesmo de ter a certeza se a moça iria pra lá também. Segue em frente, diminui as passadas que antes largas tornaram-se lentas e curtas. Antero seguia a moça pela frente. Ela nem desconfia. A comanda é entregue pelo funcionário. Ele para, olha os doces na vitrine e espera que Sandrinha se dirija ao balcão.
- E aí Bigode?
- Sandrinha...
- E o figurão da TV? Vazou?
- Nem apareceu. De tanto que bebeu ontem, e com todos aqueles pedaços de pizza que comeu, o fígado do cidadão deve de estar daquele jeito.
- Só é!
- Vai de que hoje?
- Guaraná...
- Com uma rodela de laranja e gelo?
- Só é!
- Num muda né figura? Vai dizer que vai no banheiro.
- Ê Bigode! Tá adivinhando?
- Todo cê faz isso. Pede a bebida e vai pro banheiro.
- E tu fica olhando minha bunda né?
- E num é?
- Bigode!
- Vai lá vai, que eu vou pegar o teu refri.
Antero sentado do lado da Sandrinha sem que ela tivesse percebido, pede um iogurte batido e puxa um papel qualquer da pasta de lona. Disfarça e começa ler com os cotovelos no balcão.
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