Tentei consertar a merda que fiz me oferecendo pra levar ela em casa. Leonor falou que não precisava, pois tava de carro. Insisti dizendo que ela não parecia bem pra dirigir enquanto eu só tinha tomado quatro cervejas. Acabou aceitando e me entregou a chave do carro.
- Caraca, véio! Você sabe o que é bom, hein? falei, quase sem acreditar, quando vi o opalão quatro portas dela no estacionamento mais boqueta que já tinha visto na vida.
“Tô indo bem com a tiazinha. Não posso perder esta chance”, pensava ao volante enquanto engatava um papo furado atrás do outro.
Tava mais tranquila quando chegamos. Morava num prédio antigo de seis andares num bairro grã-fino da cidade. Entramos direto pela garagem e eu fiquei meio perdido. Não sabia se devia cair pra dentro logo de cara e arriscar dar mais um fora ou se ia pra casa sem fazer porra nenhuma e ficar pensando no monte de coisas que devia ter feito. Só sei que era eu quem tinha que decidir porque Leonor era bem devagar.
- É isso aí, chegamos.
- É... disse encabulada.
- Acho que tá na minha hora.
- Você é quem sabe. Então, muito obrigada, falou, me estendendo a mão.
Aquele agradecimento me quebrou as pernas. Esperava que ela me convidasse pra entrar, pelo menos por educação, em vez de me despachar na maior. Assim que soltei a mão dela, vi o relógio e foi o que me salvou.
- Pô, que horas são?
- Meia-noite e quinze.
- Puta merda! Não tinha reparado nas horas. Perdi o último busão.
Leonor ficou muda, parecia que não tinha entendido, acho que nunca precisou pegar um ônibus.
- Já era! Vou ter que ficar na rua, falei, dando um tapa na coxa de raiva.
- Se quiser, pode dormir em casa hoje.

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