Era esse o desejo de Sandrinha quando chegou na cidade grande. Mesmo sem ter onde morar e, obviamente sem dinheiro, tentou de tudo durante dois anos. Morou na rua, fugiu da polícia, usou crack, maconha e cheirava cola de sapateiro o dia todo pra esquecer a fome. Sorte foi ter o corpo perfeito, que lhe serviu de ganha-pão, e por outro lado, foi honrado por tanto trabalho. Hoje não esta mais na rua. Tem trabalho direito de manicure no salão da Dona Joana D’arc e mora de aluguel num dois cômodos ajeitadinho nos fundos da casa da patroa. Quando está em casa não faz muita coisa de diferente não. Descansa, cozinha, faz faxina e paquera o filho da espanhola que até agora não percebeu o cortejo dela, ou não quer perceber. A janela do quarto do rapaz fica no corredor que dá acesso a escada que leva a casa da Sandrinha na parte de cima do imóvel. Quando Eça desce as escadas em direção ao portão, necessariamente passa em frente a janela. Noutro dia ela jogou um bilhete escrito num papel amassado: “Queria falar com você”. Mas o rapaz até hoje não falou com ela. Às sextas-feiras Sandrinha se dá ao luxo de ir ao bar tomar umas cervejas e cantar no caraoquê. É lá que se libera das “buchas”, se diverte e dá uns beijos. E dali pro motel, sempre. Mas gosta mesmo é de papear com o Bigode na padaria. Dizem que ele é um cara muito bem informado e que sabe de tudo que acontece na região.

Nenhum comentário: