Fiquei um tempão rolando na cama sem pegar no sono. Além da casa ser gelada pra caramba, fiquei pensando que, pra um cara que nem eu, conhecer uma mulher como Leonor era uma grande chance de arrumar a vida.
“Tudo isso pode ser seu. Tudo isso pode ser seu”, parecia ouvir uma voz.
Como não conseguia relaxar, fui tomar um banho. O banheiro, como o resto do apartamento, era bem grande. A banheira ficava do lado da porta. No fundo ainda tinha outro chuveiro cercado por uma cortina plástica. Tive que me conformar em tomar a ducha e não experimentar a banheira, como Leonor tinha pedido.
Depois do banho, resolvi escovar os dentes por causa do bafo de cerveja. Abri a porta espelhada do armarinho e vi três caixas de remédios, uma delas de tarja-preta, o que me encanou um pouco.
Peguei a pasta de dente e, assim que fechei o espelho, vi um vulto atrás de mim. Me virei assustado, mas não vi nada. Um vento mais forte bateu na janela e um ar gelado tomou conta do banheiro. Joguei a pasta na pia e voltei rapidinho pro quarto onde me enfiei embaixo da coberta e continuei sem pregar o olho. Já que daquele mato não saía coelho, pelo menos naquele dia, pensei que seria melhor acordar a Leonor e falar que eu tava vazando, mesmo que fosse andando pra casa. Uns dez minutos depois de ter deitado, vi a luz do corredor acender e, em seguida, a batida na porta.
- Entra.
- Você estava dormindo?, perguntou Leonor, abrindo a porta, com um olho esbugalhado..
- Não. O quê foi?
- Você pode vir comigo?
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